INTRODUÇÃO A EPISTEMOLOGIA DA CIENCIA

INTRODUÇÃO A EPISTEMOLOGIA DA CIENCIA

Christian José Quintana Pinedo(CV)
Karyn Siebert Pinedo (CV)

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2.1.3 Como explicar: As elaborações científicas e os ideais de cientificidade são diferentes?

A questão acima está muito genérica, mas, o teor da pergunta se refere a distância que separa o ideal de sua prática. Para nos situarmos melhor sobre este assunto vamos estabelecer a seguinte definição de ideal:

Definição 2.2 Ideal.

Aquilo que é objeto da nossa mais alta aspiração intelectual, estética, espiritual, afetiva, ou de ordem prática.

Por elaboração científica entendo que seja a aplicação dos conceitos científicos na prática, ou seja, os avanços da tecnologia. No nosso mundo involuído em que predomina a luta pela sobrevivência do mais forte, é usual que as novas descobertas científicas sejam empregadas em primeiro lugar para fins bélicos de ataque e defesa. Os exemplos são muitos. A energia atômica para uso pacífico foi um subproduto da bomba atômica. A telecomunicação via satélites se originou da corrida espacial durante a guerra fria e o seu primeiro emprego foi o de espionar o inimigo. O objetivo da própria internet no início era de interligar os centros de comando militar da força nuclear americana.

O esforço desinteressado de muitos cientistas idealistas do passado, na pesquisa da ciência pura, tais como Roentgen, Curie, Becquerel, Rutherford, J.J. Thomson, Planck, Nils Bohr, Fermi, Einstein, desembocou na explosão de bombas atômicas sobre o Japão, matando milhares de pessoas em poucos minutos.

O ideal da ciência pela ciência de uns poucos, terminam quase sempre na mãos daqueles cujo interesse máximo é o domínio sobre outros homens. Assim a dicotomia que existe entre o ideal e sua realização na prática se explica pela involução da grande maioria da humanidade. Só num segundo momento é que o ideal ressurge e transforma em benefícios para a vida humana.

A aparente descontinuidade que parece existir no processo evolutivo é explicado pela oscilação que governa os fenômenos nos seus desenvolvimentos. Oscilação que se realiza na particular dimensão do vir-a-ser, num ciclo fechado sobre si mesmo. Ubaldi comenta:

“ Tal é então o duplo movimento no qual consiste o vir-a-ser e a existência. Isto significa que em nosso universo não se pode existir senão movendo-se em direção involutiva ou movendo-se em direção evolutiva: ou progredindo ou retrocedendo”.

P. Ubaldi - ``A Descida dos Ideais''}.

Todos os fenômenos do universo movem ora em direção evolutiva ora em direção involutiva. A primeira vista isto pode parecer um ciclo vicioso, um beco sem saída, mas, o ciclo não é fechado, trata-se na realidade de uma espiral. A linha quebrada deste gráfico, a cada ciclo evolutivo, avança três passos no sentido evolutivo e dois no sentido involutivo. Ou seja, três passos na direção positiva e dois no sentido negativo. Há, portanto, um saldo positivo (3 - 2), o que demonstra que as forças evolutivas superarão “fatalmente”' as negativas. Ubaldi comenta no “O Sistema”:

“ Urge explicar essa técnica estranha de construção, mediante a qual a evolução constrói, para depois demolir reconstruindo mais alto; em seguida torna a demolir para mais tarde reconstruir mais acima, assim por diante. Que maneira estranha de avançar, retrocedendo a cada passo!”.

Vê-se assim, que a evolução não é linear, daí a sua aparente descontinuidade. Para um olhar abrangente os fenômenos evolutivos parecem ziguezaguear ao longo do tempo, como o curso de um rio cheio de meandros.